Um navio suspeito pelo vazamento do óleo que atinge praias do Nordeste e do Espírito Santo passará
novamente pelo litoral brasileiro ainda esta semana, em uma viagem de
retorno da Venezuela à Ásia, segundo pesquisa da Universidade Federal de
Alagoas ( Ufal ). É possível que esteja transportando novamente óleo cru.
O petroleiro suspeito teria navegado entre a África do Sul e a costa norte da América do Sul em
julho com o aparelhamento que indica sua localização desligado,
violando o Direito Marítimo internacional. Uma imagem feita pelo
satélite Sentinel 1-A no dia 19 de julho mostra uma mancha de óleo, até
agora desconhecida, a 26 quilômetros do litoral da Paraíba. Teria, pelo
menos, 25 quilômetros de extensão e 400 metros de largura.
— Tínhamos a sensação de que o navio responsável pelo vazamento era
um fantasma, porque estava com o transponder (o equipamento de
localização) desligado, mas que ele seria novamente acionado — revela o
pesquisador Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e
Processamento de Satélites ( Lapis ), que integra a
Ufal. — Hoje a embarcação está realizando a sua primeira viagem após o
incidente e segue seu itinerário normal. Já saiu da Ásia e, neste momento, está na Guiana Francesa , indo em direção à Venezuela. Daqui a cinco ou seis dias, estará na costa norte do Nordeste, retornando a um país asiático.
Barbosa entregará seus estudos à Marinha — que,
observa ele, é a responsável por decidir se alguma providência deve ser
tomada. Sua equipe, porém, continuará monitorando a embarcação por
satélite.
— Não vou divulgar publicamente qual é o navio ou a sua bandeira, não
posso me precipitar. (Os investigadores) Fizeram isso com o Bouboulina e
estavam errados. Mas vou passar todas as informações para a Marinha e,
por enquanto, estamos monitorando a embarcação por satélite. Acredito
que ela está transportando óleo cru — explica Barbosa.
Segundo o Lapis, o navio suspeito tem uma tonelagem bruta duas vezes maior do que o Bouboulina, apontado pela Marinha e pela Polícia Federal (PF)
como o responsável pelo derramamento de óleo. Até agora, foram
recolhidas mais de 6 mil toneladas de óleo nas praias, o que mostra o
grande porte do navio responsável pelo incidente.
O Sentinel 1-A é o mesmo satélite que capturou uma mancha de óleo a 40 quilômetros de São Miguel do Gostoso (RN),
visível na região no dia 24 de julho. Com a imagem, foi possível
concluir que os cinco navios gregos investigados pela Marinha e pela PF,
entre eles o Bouboulina , não seriam responsáveis pelo vazamento. A
avaliação do Lapis foi corroborada pela organização americana Skytruth,
especialista em análises do mar.
Na nova etapa do estudo, os pesquisadores afirmaram que, “com base em
dados de geointeligência marinha, cruzados com informações de
satélites, o Lapis concluiu ter havido comportamento atípico, no
percurso do navio, pela costa norte do Nordeste brasileiro, no período
anterior a 28 de julho”.
A próxima etapa, então, foi analisar todas as imagens de satélites da
região entre os dias 19 e 24 de julho, quando passaram ali 111
navios-tanque que transportavam óleo cru. Somente um, no entanto,
apresentou evidências de que teria ocorrido um incidente.
Trata-se de uma embarcação que normalmente cumpre o trajeto entre um
país asiático e a Venezuela, passando pela África do Sul, com o
transponder ligado. No entanto, o navio cumpriu seu trajeto em julho às
escuras. Sabe-se que ele deixou a Ásia no dia 1º de julho e que chegou à
costa norte da América do Sul, possivelmente na altura da Guiana , no
dia 28 do mesmo mês.
Em seguida, a embarcação aproximou-se da costa nordeste dos EUA , no dia 31 de julho, e rumou para a costa africana, passando perto de Serra Leoa no dia 9 de agosto. A partir do dia 13 de agosto, seguiu de volta à Ásia.
— Não sabemos se o vazamento foi uma questão técnica ou criminosa.
Pode ser que o navio tenha percebido o incidente, mas, para não
responder pelo crime, desligou sua localização — avalia Barbosa.
Em nota, a Marinha afirmou que segue diversas linhas de investigação,
como o afundamento recente ou antigo de navios e o derramamento de óleo
durante manobra de petroleiros.
O GLOBO
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