Há pouco mais de um mês no centro de um escândalo que coloca a sua atuação na condução da Operação Lava Jato em xeque, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, mantém apoio de mais da metade da população.
Embora sua popularidade apresente queda de sete pontos percentuais, saiu de 59% para 52% de acordo com a última pesquisa Datafolha, especialistas ouvidos pelo HuffPost Brasil defendem que as mensagens atribuídas a ele não foram suficientes para afastá-lo de sua representação simbólica como a principal figura no combate à corrupção no País.
Para o procurador Ricardo Prado, presidente do Movimento do Ministério Público Democrático (MPD), a população brasileira “amadureceu” nos últimos anos. “E isso se reflete no Datafolha. Estão dizendo que tem alguma coisa irregular? Tudo bem, isso deverá ser investigado dentro do processo. Mas isso não tira o mérito da Lava Jato e nem obriga o ministro Sérgio Moro a deixar o seu cargo”, analisa.
A pesquisa divulgada no último fim de semana aponta que 63% dos entrevistados têm conhecimento dos diálogos divulgados pelo The Intercept. Entre os entrevistados, 58% acham que a conduta de Moro foi inadequada, em comparação com os 31% que a aprovam.
O mesmo índice (58%) se repete entre aqueles que dizem acreditar que, se comprovadas irregularidades, eventuais decisões de Moro na Lava Jato devem ser revistas. Porém, para 30% dos ouvidos, os avanços no combate à corrupção compensariam eventuais excessos cometidos pelo então juiz.
Para Prado, Sérgio Moro ainda tem apoio suficiente da população porque ele é tido como uma pessoa que “está no caminho certo”.
“Os diálogos que foram apresentados são pouco significativos diante do que foi conquistado no combate à corrupção. O que a ‘Vaza Jato’ criou, na verdade, foi uma espécie de terceiro turno da eleição. A população não quer a volta da corrupção. Então, enquanto você não tiver alguém que ocupe melhor esse papel do que o Moro, ele vai acumular esse capital”, defende.
O Datafolha também trouxe números sobre a avaliação sobre Operação Lava Jato. Segundo a pesquisa, 55% dos entrevistados consideram a operação como ótima ou boa.
Para o cientista social e professor da FGV Marco Antônio Teixeira, o apoio à operação reflete que a ideia de “os fins justificam os meios” é sólida entre os brasileiros, apesar de atrapalhar o desenvolvimento da democracia.
“Se você naturaliza atropelos, atalhos à lei e desobediências de processos em nome de um objetivo, você abre uma porteira para que outras coisas comecem a ser aceitas”, argumenta.
Segundo o especialista, isso se deve ao fato de que a corrupção como o mal-estar da sociedade ganhou muita notoriedade na discussão política do Brasil nos últimos anos. E a Lava Jato, ao condenar políticos e grandes empresários, alimentou uma “sede de justiça” por parte da sociedade.
“E se hoje a população acredita em heróis, é porque a própria classe política e a Justiça criaram essa lacuna. Essa sede de justiça faz com que, para muitos, o resultado justifique os meios. Para driblar a lentidão e a dificuldade de combater a corrupção, vale tudo, nem que seja ignorar os meios mais adequados dos processos”, explica.
Quando
questionados sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, 54% dos entrevistados a consideraram justa contra 42% que
classificam que a situação do petista é injusta.
Para o procurador
Ricardo Prado, os índices demonstram como a polarização entre lulistas e
lavajatistas ainda é muito forte no País.
“A gente não consegue
evoluir dessas posições antagônicas. Mas a insistência no Lula não pega
mais. A esquerda quer contrapor erros antigos contra aquilo que surgiu
como novo para a sociedade, que é o Sérgio Moro”, diz.
Recesso
Em
meio a esse conflito, o ministro vai tirar 5 dias de recesso a partir
de segunda-feira (15). Ele vai tirar licença não remunerada para “tratar
de assuntos particulares”. Neste período, assume o comando da pasta o
secretário executivo Luiz Pontel.
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