O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Em
2016, foram 127, um a cada 3 dias. A expectativa de vida deles é de 35
anos, menos da metade da média nacional, que é de 75 anos. Os dados são
do Grupo Gay da Bahia, e não faltam histórias Brasil afora que os
comprovem.
Uma delas é a história da travesti Dandara dos Santos, que foi espancada e assassinada por um grupo de jovens num bairro da periferia de Fortaleza (CE)
no último dia 15 de fevereiro. Vizinhos assistiram à cena em plena luz
do dia, mas não prestaram socorro. Um dos agressores gravou o
espancamento, os pedidos de ajuda de Dandara e seus últimos minutos de
vida. O caso está sendo investigado pela inspetora da polícia civil
Vitória Holanda, uma amiga de infância de Dandara.
Para Vitória, Dandara foi espancada até a morte por causa de sua
sexualidade. "A figura dele como homossexual é o que pesou mais para
eles o executarem. No vídeo eu não tenho dúvida alguma de que foi
homofóbico." Os acusados estão presos em uma delegacia de polícia. Caco
Barcellos foi até lá e escutou de outros presos: "São todos inocentes,
pelo que nós conversamos aqui, são todos inocentes."
Monique entrevista Bárbara, que está fazendo sua
transição de gênero e passa a se chamar Bernardo
transição de gênero e passa a se chamar Bernardo
Enquanto isso, em Salvador, na Bahia, a repórter Monique Evelle conhece
a história de Bernardo, que nasceu Bárbara. Ele está assumindo sua
identidade masculina. A mãe já sabe da homossexualidade da filha, mas
não sabe que ela mudou de nome. Bernardo decide contar para a mãe que
mora em Pesqueira, no Pernambuco, a 15 horas de ônibus de Salvador. "Eu
tenho muito receio porque minha familia é extremamente religiosa. Minha
mãe tem amigas lésbicas que ela trazia para dentro da nossa casa e fui
criada junto e não pode ter preconceito e é igual. Mas quando eu cheguei
pra falar... Não, na minha casa não."
Monique acompanha Bernardo e a namorada dele, Ingrid, que também será
apresentada para a família na ocasião. "Eu estou ansiosa pra caramba.
Porque vai conhecer a família dela, aceitação também não sabe como vai
ser", diz Ingrid, que preferiu não expor sua imagem e não mostrou o
rosto para nossa reportagem.
Iran Giusti, fundador da Casa 1, acolhe LGBTs em
situação de rua (Foto: TV Globo)
situação de rua (Foto: TV Globo)
Uma casa para quem teve de sair de casa
Em São Paulo, o repórter Guilherme Belarmino visita a Casa 1, um local no Centro da cidade que acolhe pessoas que foram expulsos de casa por causa da sexualidade. Iran Giusti, fundador da Casa 1, conta que o projeto, inaugurado em janeiro deste ano, começou com um financiamento coletivo feito na internet que arrecadou R$112,272 com a ajuda de 1048 colaboradores. "A gente recebe LGBTs que foram expulsos de casa e pessoas em situação de vulnerabilidade, então (casos de) violência psicológica e física sempre por causa de questões de orientação sexual e identidade de gênero", explica ele.
Em São Paulo, o repórter Guilherme Belarmino visita a Casa 1, um local no Centro da cidade que acolhe pessoas que foram expulsos de casa por causa da sexualidade. Iran Giusti, fundador da Casa 1, conta que o projeto, inaugurado em janeiro deste ano, começou com um financiamento coletivo feito na internet que arrecadou R$112,272 com a ajuda de 1048 colaboradores. "A gente recebe LGBTs que foram expulsos de casa e pessoas em situação de vulnerabilidade, então (casos de) violência psicológica e física sempre por causa de questões de orientação sexual e identidade de gênero", explica ele.
A casa tem dez camas em um dormitório coletivo e funciona com doações
de alimentos. Os moradores não pagam nada para morar ali. Cindy Breezy é
uma das moradoras do espaço. "Já saí de casa três vezes e tentei voltar
porque falavam que iriam mudar, que iam tentar me entender, e todas às
vezes que eu voltava nunca isso acontecia. E toda vez que eu saía para
tentar arrumar emprego, trans e negra, eu nunca conseguia. Mas para
minha mãe e minha família, eu que não estava correndo atrás direito. Mas
não é dessa forma."
Kléber Souza, morador da Casa 1 (Foto: TV Globo)
Kléber Souza, também morador da Casa 1, passou por problemas
semelhantes, mas chegou a morar na rua. "Passei pelo mesmo motivo, o
preconceito da minha família de não aceitar, de querer que eu só fique
com eles caso eu mudasse. Eu falei pra eles que não ia mudar, então
acabou ocorrendo a expulsão e eu inclusive cheguei a morar um tempo na
rua antes de vir para cá", diz ele, que começou a ter problemas em casa
quando se assumiu homossexual para a mãe, que é evangélica.
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