Cientistas
da Universidade de Colúmbia Britânica, no Canadá, manipularam
geneticamente um rato para resistir à dependência de cocaína, de acordo
com publicação da revista "Nature" nesta segunda-feira (13).
O experimento, liderado por Shernaz Bamji, demonstrou que o consumo
habitual da droga responde mais a uma questão genética e bioquímica.
O rato manipulado pelos cientistas tinha níveis maiores de uma proteína
chamada cadherina, que auxilia as células a se manterem unidas. No
cérebro, essa proteína ajuda a reforçar as sinapses, as conexões
neuronais.
A ação de aprender, inclusive o 'prazer' provocado pelas drogas, requer
o fortalecimento de certas sinapses e, por isso, a professora Shernaz
Bamji pensou que um acréscimo de cadheria no cérebro tornaria o rato
mais propenso à dependência à cocaína.
Mas o que Bamji e seus colegas descobriram acabou sendo exatamente o contrário, conforme publicou hoje a "Nature".
Para realizar o experimento, os especialistas utilizaram dois ratos, dos quais apenas um foi manipulado geneticamente.
Aos dois foi fornecida a mesma quantidade de cocaína em uma caixa
identificada, de maneira que os animais pudessem associar esse espaço
com o consumo da droga.
Após fornecer cocaína às cobaias durante vários dias seguidos, os
roedores ficavam livres para passar o tempo em qualquer um dos
compartimentos da caixa e, enquanto o rato normal praticamente gravitava
em torno do local onde tinha tomado a droga, o outro passou a metade do
tempo nesse compartimento.
Assim, ficou comprovado que o rato com mais cadherina não tinha criado
lembranças fortes da sensação provocada pelo entorpecente.
Para entender o inesperado resultado do experimento, Bamji analisou o
cérebro do rato manipulado e concluiu que o acréscimo de cadherina
previne que um tipo de receptor neuroquímico se transfira do interior
das células para a membrana sináptica.
Sem esse receptor, conforme explica o artigo, é difícil para os
neurônios se comunicarem, por isso as sinapses não são fortalecidas e a
'lembrança do prazer' produzido pela droga não adere ao cérebro.
"Prevenindo o reforço das sinapses, foi possível prevenir que o rato
manipulado 'aprendesse' a lembrança da cocaína, por isso ele ficou mais
resistente a se tornar um viciado", afirmou a coautora do estudo, Andrea
Globa.
Esta descoberta demonstra que as pessoas que sofrem problemas de
dependência tendem a ter maiores mutações genéticas relacionadas com a
cadherina e com a adesão celular.
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