Os veículos
que circularem pelo Brasil a partir do primeiro trimestre de 2014 vão poder
usar um novo combustível. A notícia vem de uma multinacional com sede em
Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, no Paraná. Além do álcool e da
gasolina, surge o etanol de segunda geração, que está sendo produzido para colaborar
com o meio ambiente, ser mais barato e com eficiência semelhante ao etanol
comum, como explicam os pesquisadores.
De acordo com
um dos gerentes da Novozymes, Ricardo Blandy, este combustível é feito à base
de resíduos agrícolas, como o bagaço de cana-de-açúcar e o amido de milho.
“Hoje, o álcool é feito da própria cana e do próprio milho. O que sobra desses
materiais, não é utilizado. Nós encontramos uma tecnologia que converte esses
resíduos em combustível”, explica.
“O trabalho
não é igual a produção de álcool comum”, revela o gerente de desenvolvimento e
pesquisa, Thomas Rasmussen. Há 10 anos, pesquisadores têm trabalhado para
desenvolver o etanol de celulose ou de segunda geração. Ele conta que foi
necessário buscar na natureza um fator que pudesse reagir e transformar os
resíduos em combustível, que são as enzimas.
Segundo
Rasmussen, com base nisso, a empresa desenvolveu uma matéria-prima, que deve
ser negociada com as usinas interessadas em fabricar o novo etanol. Por
enquanto, o trabalho está sendo feito em pequena escala, apenas para
experimento.
A primeira
usina a começar a produzir o etanol de segunda geração em larga escala é do
estado de Alagoas, no nordeste do país. “Outras quatro empresas já
anunciaram publicamente que devem produzir o combustível a partir do ano que
vem”, conta o gerente.
Benefícios
Os pesquisadores afirmam: o etanol de celulose possui vários benefícios. Um
deles é reduzir o impacto ambiental com a reutilização dos resíduos. “O Brasil
tem disponível de biomassa [resíduos de produção] um volume suficiente que
seria capaz de dobrar a produção de álcool atual”, explica Blandy. Segundo ele,
este material está sendo jogado no lixo por não existir indústria que o
reutilize.
O gerente
conta que, na safra 2012/2013, a produção de álcool comum no país foi de 22
bilhões de litros. “A vantagem é a de que o produtor não vai precisar aumentar
a área de plantação e vai utilizar apenas os resíduos que sobram na usina”,
esclarece. Rasmussen complementa que o custo logístico será mínimo com um
incremento de 30% no resultado da produção da usina.
Com a
economia, é esperado também o benefício para o consumidor. Blandy conta que o
custo de produção será de 10% a 15% mais barato do que o etanol de primeira
geração, o que deve refletir no preço final do novo combustível.
Outra
vantagem, segundo o gerente, é a de não competir com o setor de alimentos.
“Quando você planta cana-de-açúcar para produzir álcool, você está deixando de
produzir açúcar ou outros alimentos baseados em glicose. Mesma coisa com o
milho. Você acaba competindo com um mercado, gerando impacto na alimentação da
população. Quanto mais álcool, menos alimento”, explica. A utilização total da
produção tende a não causar desperdícios.
Para o
professor do departamento de Química da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Luiz Pereira Ramos, a nova tecnologia vai trazer
vantagens econômicas para o Brasil. “O país tem toda a condição do mundo de
ocupar um lugar muito importante no mercado exterior. Novas indústrias podem se
instalar aqui”, afirma. Ramos ainda acredita que o etanol de segunda geração
vai diminuir o uso de petróleo, que será utilizado para outros fins.
SEM
CICLO DE CANA – No Brasil, a cana-de-açúcar é a
principal matéria-prima para a produção do álcool. Segundo Rasmussen, como o
ciclo é curto - de abril a novembro -, a empresa sugere às usinas a produzirem
etanol de celulose com o bagaço de eucalipto, para não ficarem inativas. “A
tecnologia é a mesma em todo o mundo. O diferencial é de que aqui é possível
utilizar uma matéria-prima que pertence à própria natureza”, acrescenta.
O professor
também sugere a produção do novo etanol utilizando outras fontes. “Tendo como
base a celulose, você pode aproveitar o lixo, como o papelão. Além disso, é
possível reutilizar resíduos agroflorestais, casca de arroz, sabugo de milho,
entre outros materiais”, comenta. (Por Silvia Cordeiro, Do G1 PR)
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